O projeto de trem Interoceânico, entre o litoral brasileiro e o peruano encontra um novo obstáculo para sua conclusão: O presidente peruano, Pedro Pablo Kuczynski, admitiu nesta esta semana em Pequim dúvidas pela viabilidade da construção da ferrovia, proposta pelos chineses.
“É uma ideia que foi promovida no ano passado para transportar a soja do Mato Grosso (oeste do Brasil) à China mais rapidamente, mas eu tenho algumas questões sobre este trem”, afirmou Kuczynski.
De acordo com o líder, alto custo e uma eventual viagem “batendo lata” poderiam inviabilizar o projeto. “Primeiramente, seu custo, que é altíssimo, e em segundo lugar se há carga de volta (do Peru ao Brasil), porque qualquer sistema de transporte deve ter cargas nos dois sentidos”, explicou o presidente peruano.
Outra questão envolvida seria a geografia do traçado, como as grandes alturas pelas quais deve passar a ferrovia, necessitando de inúmeros túneis, e por consequência encarecendo o projeto.
À primeira vista parece alguma coisa ligada ao Ministério do Meio Ambiente — uma estrada de ferro para melhorar a sustentabilidade dos biomas brasileiros, talvez, ou para proteger a biodiversidade do nosso litoral? Não: a ideia é fazer uma ferrovia ligando o Brasil ao Peru, até chegar ao Oceano Pacífico. É o novo trem-bala — “O Retorno”. Ideia fixa? Chamem os universitários.
A Ferrovia Bioceânica não faz parte do PAC, caso isso possa animar alguém, e sim do PIL, o que já desanima de novo — é esse o nome que deram a um Plano de Investimento em Logística que o governo acaba de anunciar, acenando com investimentos de quase 200 bilhões de reais em obras, dos quais, obviamente, não existe um único tostão em caixa.
Na teoria, a solução para essa dificuldade está em executar as obras pelo sistema de concessões à iniciativa privada. É o que o governo prometeu ao lançar esse último plano, junto com a garantia de que, ao contrário do que aconteceu nos últimos 13 anos, desta vez as empresas não terão de cumprir exigências impossíveis para receber a licença de investir na infraestrutura do país.
Trata-se, com certeza, da única opção para fazer algo de útil nessa área — ou o investidor privado tem alguma chance real de ganhar dinheiro com a exploração comercial de estrada, aeroporto ou outra obra que construa com os próprios recursos, ou não investe. Por que raios investiria se o governo não vai deixar que ele tenha lucro com seu investimento?
Desde janeiro de 2003, os resultados obtidos com concessões foram positivamente miseráveis, como é da lógica elementar — nas poucas iniciativas que chegou a fazer, o governo criou tantos obstáculos que quase nada de sério foi feito. O mais notável deles é a exigência de um “lucro justo”, nem um realzinho a mais — sendo que é o governo, e não o mercado, quem decide o que é justo e injusto.
Esqueçam o trem bioceânico, que já nasce morto pelo ridículo e pelo fato de que transportar cargas para o Pacífico sai mais barato pelos portos atualmente em operação, mesmo com seus custos horrendos. O PIL inteiro caminha para a não existência se os gestores continuarem a agir como têm agido em todo o seu governo.
As obras jamais seram feitas porque ambos, no fundo, são apaixonadamente contra a privatização da infraestrutura — estão convencidos de que é melhor não fazer nada do que deixar que outros façam. Preferem ficar com sua ideologia e as ruínas da transposição das águas do rio São Francisco.